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Saturday, April 29, 2006

A Visita

Texto mto curtinho...
A Visita
As janelas estavam abertas. A luz do sol invadia o quarto e tomava conta de todos os lugares. O céu, limpo, sem nuvem alguma. Após a tempestade, a calmaria...
No canto do cômodo, uma poltrona. Nela, uma senhora idosa se sentava confortavelmente: ao contrário dos outros dias, a dor a tinha abandonado. Sentia-se bem e feliz.
Sim, ela era feliz. Viveu e não se arrependeu de nenhum momento. E agora que a morte se aproximava como o sol que vinha de encontro aos seus pezinhos delicados, ela percebeu que não podeira ter sido melhor. Viveu, e não foi em vão...
Amou também. Umas vezes, o amor amargo, não correspondido e sofrido. Chorado. Ainda podia sentir seus olhos quentes pelas lágrimas derramadas, a boca seca pelos soluços ouvidos somente pleo seu travesseiro. Seu grande conselheiro mudo.
Outras vezes, o amor impetuoso, feliz e fiel. O grande amor, idealizado na juventude. E, dessa vez, pôde sentir o tremor das paixões. O amor, esse amor verdadeiramente vivido em total plenitude, tinha sido sua grande conquista.
Sofreu perdas. Chorou mortes. Sentiu-se sozinha. Viu sua casa, sempre tão cheia, se esvaziar com o passar do tempo. Superou todos os seus, apesar de sua saúde sempre debilitada. E venceu. Trabalhou durante toda a sua vida, e se orgulhou disso. Ganhou dinheiro, e se sustentou. Casou, mas não teve filhos, e nunca se arrependeu, tinha sido sua escolha, como tudo em sua vida. E agora estava sozinha, ela e o sol em seus pés, observando o mundo de sua janela. E sorriu.
Viveu feliz. Morreria feliz também.

Wednesday, April 12, 2006

DUELO

Olhos fechados.
A expectativa era algo praticamente insuportável. Ela mal podia conviver com isso, era ansiosa por natureza. Sempre lhe disseram isso, mas ela nunca tinha provado tal coisa com um gosto tão doce e amargo ao mesmo tempo. Doce porque ela queria que assim o fosse. Amargo porque a sensação de esperar a corroía de curiosidade.
Sentia como se um calafrio a percorresse, mas não era exatamente isso, ela pensou. Toda aquela vertigem, mistura de sensações estranhas, sentimentos obscuros e medos diversos nunca encontrou momento tão propício como aquele. Ela não sabia se sorria ou se aquilo era desesperador: gostava de estar no controle, mas agora conhecia bem o valor do inesperado, da surpresa.
Olhos fechados.
Sorriu.
Sim, estava gostando daquela sensação. Era algo que ela não pôde definir pelas simples palavras “bom” ou “ruim”, mas que ela, ainda assim, estava descobrindo. Tinha o sabor da novidade, o sabor do desconhecido, de um universo a ser descoberto. Ah, ela gostava de novos universos.
Sensações estranhas.
O desconhecido, ao mesmo tempo que era algo muito aprazível aos seus olhos, a deixava com medo. Assustava-a mais do que qualquer coisa. E por isso talvez não sabia definir o que sentia naquele momento, tudo o que sabia era que consistia em um misto do que ela mais amava e abominava, algo que nunca tinha presenciado antes, nem pensou que fosse acontecer algum dia. Estava em uma encruzilhada: todas as suas contradições afloravam e perturbavam-na. Antes não tinha muito conhecimento delas, mas naquela hora, mais que tudo, seus pequenos eus paradoxais se enfrentavam. Ou seriam somente id, ego e superego? Não sabia.
Olhos fechados.
Pensamentos confusos.
Algo exterior à ela a toca. Até aquele momento, o mundo real não existia, mas agora era impossível não notá-lo: a força de seu toque parecia queimar sua pele. Estremeceu. O meio-sorriso voltou, transformando-se em algo indefinível. Nem ela mesma sabia explicar porque sorria daquela forma. As boas sensações ainda não apagavam o quão desesperador era aquela espera. Mas simplesmente pensou em se deixar levar pelo desconhecido. E era isso que ela queria, acima de todas as coisas. Ah, sim, ela queria.
Ouviu o som do trânsito lá fora. Lá, no mundo exterior. Ele a chamava, dizendo que deveria se libertar daquilo, tomar novamente as rédeas da situação. Mas era um guerreiro caído, praticamente morto, liquidado por algo que ela nem ao menos conhecia, mas que estava lá, perdido em algum lugar de seus pensamentos em desordem completa.
Olhos fechados.
Entretanto, ainda tinha duas opções: continuar ou fugir. Ambas seriam frustrantes, ela sabia: ou cessaria o desespero e a ansiedade, ou a curiosidade. Não teria os dois. Precisava escolher, e rápido. Mas, aonde estava o seu raciocínio mesmo? Ainda precisaria procurá-lo? Não, isso era fisicamente impossível. Não seria mais capaz de evocar a racionalidade. Ela estava longe demais: considerava o cérebro muito longe do coração, um longo caminho a percorrer.
Deixou-se levar.
Olhos fechados.
Um beijo.

Tá, txt feito em menos de cinco minutos...espero q tenham gostado...

Thursday, April 06, 2006

É...eis que atualizo novamente!

Olá pessoas que são adeptas de uma ideologia subjetiva!
Após longo tempo de abandono, atualizei o blog novamente! Estava ficando difícil manter o blog, estudar, fazer os textos das trovadoras...enfim, mtas coisas para a minha mente primitiva. Mas aí está mais um pequeno conto. Vou logo avisando que até eu me surpreendi com o que saiu dele: começou despretensioso, como uma simples vontade de escrever algo, e foi me surpreendendo na medida em que fluía da mente para o papel...
Sem título
A cada minuto tinha convicção de que aquilo não era lugar para ele. Cores, luzes e música alta, que fritava seus neurônios a cada batida frenética. Nada dos clássicos que ouvia. Mulheres bonitas dançavam sensualmente, e os homens, cada um com seu copo de cerveja, admiravam-nas como a um mero objeto de cobiça. Nenhuma poesia, nenhum romantismo, nada. O que não fazer para se tornar sociável...
O ritmo agora mudava. Ficava ainda mais eletrizante. Ele tinha a impressão de que ia ensurdecer, mas as pessoas gostaram e demonstraram sua aprovação com gritos e aplausos. Alguma garota lhe ofereceu algum copo de alguma coisa, que ele aceitou prontamente, sem pensar. Ela lhe deu um sorriso extasiante, esperando algo em troca que ele sabia muito bem o que era. Mas disse um singelo “obrigado” e ela, desmanchando o sorriso na mesma hora, foi embora. Encontraria outro cara, mais tarde ele saberia.
Bebeu, e aquilo fez sua garganta arder. Mas o gosto era bom. Tomou de uma só vez. Afinal, estava ali com o pessoal da faculdade, precisava se enturmar, fazer amigos, enfim, se soltar. E, tímido como era, nada melhor do que beber para isso. Acostumar com aquela música é que ia ser difícil.
Não sabia dançar, mas isso era coisa que se resolvia. Chegou perto de um grupo de meninas: uma delas parecia bem interessante. Iniciou alguns passos e se aproximou de seu alvo. Olhava para ela, fixamente: as belas curvas renderiam-lhe bons comentários entre seus novos “velhos amigos”. Mas, suspendendo o olhar por um instante, viu algo que jamais esperaria encontrar ali. Viu a poesia personificada na forma de uma mulher.
Calça jeans, camiseta preta. Não via seu rosto, ela estava de costas para ele. Cabelos na altura dos ombros, extremamente negros e lisos. Movia-se com lentidão, como se não ouvisse a música que invadia o ambiente. Tinha as mãos nos cabelos e, suspendendo-os por um momento, permitiu sem querer que ele visse sua nuca. Estava em um outro universo, dançava conforme sua música. Simplesmente não se importava com nada ao seu redor.
Para ele, ela era linda. Seu corpo dançava com graça e suavidade, não percebendo o olhar que o percorria. Cores, luzes e música alta, tudo parou de repente.
Ela lentamente se virou na sua direção, ainda dançando em seu ritmo particular. Olhos fechado, cabeça ligeiramente inclinada para frente, mãos ainda perdidas entre os fios lisos, escorregando entre eles. Ele a observava e a admirava. Onde estaria o pensamento daquela pintura, obra de arte viva? Certamente não naquele lugar. E perdeu-se ali, sem qualquer noção de tempo ou espaço. Socializar ou não, isso não tinha a menor importância agora.
De repente, ela abriu os olhos, e seu olhar queimou-o como brasa ardente. Parou de dançar, como se o fato de ser observada a incomodasse. Sorriu para ele, e ele foi aos céus. Parados, estranhos um para o outro. O tempo, suspenso.
Ela fechou os olhos novamente e voltou a dançar. Ele teve a impressão de que ela se afastava, mas quando deu por si, já estava sendo arrastado pela outra mulher. Beijou-a rapidamente, para acabar logo com aquilo. Mas, quando abriu os olhos, a poesia não estava mais lá. Tinha-se perdido.